segunda-feira, março 20, 2006

A Igreja nova

A capela de Nossa Senhora do Faial, em que foi instalada a sede da paroquial ficava na margem esquerda da ribeira, estando muitas vezes na iminência de ser arrastada pela violência da corrente nas invernias mais rigorosas, tendo-se no ano de 1699 mandado proceder à construção de uma muralha destinada a proteger o templo, devido ás diligências do vigário de então, o padre Manuel Catanho de Meneses, citando o mandado do Conselho da Fazenda: “pelo menor lanço”.
A fábrica da Igreja estava abonada, desde 1574, com 4$000 réis por ano para as suas despesas de conservação, o que dava para a manutenção, mas era manifestamente insuficiente para obras de outro vulto e mesmo para a aquisição de determinadas alfaias, quase sempre pagas pela fazenda real. Em 1664, por exemplo, enviou a fazenda real um mandado de 333$500 réis “para ornamentos e mais coisas necessárias”, então a requerimento do vigário Henrique de Madureira Figueira.
A capela estaria de novo muito arruinada pela primeira metade do século, tendo sido reconstruída por mandado do Conselho da Fazenda de 20 de Novembro de 1744. Foi então a igreja traçada e orçamentada pelo mestre das obras reais João Moniz de Abreu e a obra dada de arrematação ao mestre carpinteiro Cristóvão Gomes de Sousa pelo lance de 7:980$000 réis. A construção teve efeito na margem oposta da ribeira, em local mais resguardado que a anterior, tendo a primeira pedra sido lançada a 5 de Agosto do seguinte ano de 1745. No final do ano de 1747 eram já enviados 1:611$620 réis para a aquisição de um turíbulo, uma naveta e um sino “de 185$000 para cima”.
O pedido da população para reconstrução da igreja pareceu quase profético, pois em 15 de Dezembro de 1744, toda a área foi parcialmente destruída por um séria de grandes chuvadas, que ao longo de 8 dias fizeram transbordar as ribeiras "e levaram ao mar as casas, e as fazendas em que tinham plantados os seus inhames, para sua sustentação, ficando o chão em pedras e os suplicantes impossibilitados de se refazerem da perda", como referem depois os habitantes da freguesia a D. João V. Ainda acrescentam os mesmos, "que para não morrerem de fome, tinham já ido pedir por esta Ilha", pelo que solicitavam a misericórdia do Rei para que mandasse vir dos Açores 100 moios de trigo. O Rei despachou o pedido em 1747, mas com 20 moios de trigo e 20 de milho.
O terramoto de 1748 não teria afectado o andamento das obras, pois a fazenda régia orçamentou em 1753 as obras de talha e douramento do altar-mor, assim como da residência paroquial.
No entanto, as arrematações então feitas não teriam sido cumpridas, pelo que em 1770, foi proposto ao Conselho da Fazenda a realização do retábulo e do camarim por "administração directa" da paróquia, na base do anterior orçamento de 2:200$000 réis, o que se fez. Entretanto, em 1768 tinham já sido atribuídos 1:983$690 réis para os "ornamentos e peças de prata", assim como 215$950 "para um sino de 20 arrobas", então enviado de Lisboa.
A igreja estaria pronta em 1785, pois por breve pontifício de 30 de Agosto desse ano foi concedida indulgência plenária aos que a visitassem por ocasião da festa do respectiva padroeira, que é a 8 de Setembro, dia da Natividade da Virgem.
Conhecemos a igreja através de algumas fotografias antigas, mau grado a inferior qualidade, mas principalmente por um desenho aguarelado de Andrew Piken, datável de 1842 e proveniente da colecção Torre Bela, hoje propriedade da câmara municipal do Funchal. Uma versão deste desenho, mas não aguarelada, faz parte da colecção da casa-museu Dr. Frederico de Freitas.
A Igreja aparece com fachada relevada, encimada por cimalha de balanço em cantaria e enquadrada por pilastras, com portal e janelão articulados, com o janelão ladeado por aletas e encimado por florão rematado por flor de Liz. Do lado do Evangelho existe torre sineira, com duas janelas quadradas e janela dos sinos com arco de volta perfeita, rematada por cimalha relevada em cantaria com eirado em “chapéu de cónego”.
Existem no entanto neste desenho dois pormenores bizarros. A cimalha da fachada é rematada com cruz de calvário com os braços revirados para cima, de que não conhecemos outro exemplo na Madeira. O adro da Igreja é murado e, sobre o muro, existe cruzeiro com grande cruz patriarcal, com os braços rematados por bolas, o que deve ser imaginação do artista, pois desconhecemos a presença de qualquer patriarca na Madeira para uma cruz deste tipo poder ter sido levantada.

1 Comentários:

Blogger Marcos de Freitas Sugaya disse...

Achei seu texto valioso, pois permitiu que eu localizasse o local de onde meus avós vieram para o Brasil. Sabia apenas que das terras da família "se avistava a Igreja de N. Sra. do Faial".

11:24 da tarde  

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